Projeto Representação da Mulher no Cordel lança Cordelteca Alda Cruz

Iniciativa populariza o legado feminino do cordel em escola pública do alto sertão sergipano

Projeto Boletim Fapitec Ciência/ Programa de Comunicação Científica e Tecnológica (PROCIT)

 Texto e Imagens: Katia Azevedo

Jornalista (DRT/SE 719) / Bolsista DTI-3/FAPITEC/SE/FUNTEC/Edital Nº1/2022

A partir de agora o Centro de Excelência Manoel Messias Feitosa, em Nossa Senhora da Glória, no alto sertão sergipano, passa a contar com um rico acervo de literatura de cordel, a  Cordelteca Alda Cruz.

 A iniciativa é um dos resultados do Projeto Representação da Mulher no Cordel, apoiado pelo EDITAL FAPITEC/SE/SEDUC/SE Nº 02/2022, que envolve também uma pesquisa sobre a participação feminina na arte da poesia popular.

O lançamento da cordelteca ocorreu na última quarta-feira, 11 de outubro, com a presença da homenageada, a poeta, professora e cordelista Alda Cruz, 93 anos.

Durante o lançamento da cordelteca, a cordelista recitou versos, falou da sua relação com o cordel ainda menina, e agradeceu a homenagem. “Recebo com alegria esta homenagem que para mim é muito significativa para a valorização da nossa cultura popular sergipana e para o despertar das novas gerações do cordel e do seu papel educativo. Sou grata por todo este reconhecimento e fico feliz por contribuir com este belo projeto” agradeceu.

 Os professores e responsáveis pelo projeto, Jorge Henrique Vieira Santos e Isis Gabrielle Silva da Penha, lembraram a importância literária de Alda Cruz como uma das grandes cordelistas no Brasil e símbolo de resistência negra e feminina da literatura popular.

Os organizadores ressaltaram que a escolha do nome de Alda Cruz “é uma forma de prestigiar a cordelista mais idosa de Sergipe ainda em atividade, reconhecendo a sua  trajetória de vida e produção cordeliana como um valioso tesouro que merece todas as honras e deve estar presente no nosso espaço escolar, para que possa servir de referência e inspiração às novas gerações”.

A professora Isis Penha destaca que o lançamento da Cordelteca Alda Cruz representa o reconhecimento da produção feminina sergipana na literatura de cordel, ao enfatizar que é preciso desconstruir a falácia de que existem poucas mulheres produzindo cordel. De acordo com a professora, os folhetos que compõem o acervo da cordelteca demonstraram o contrário, revelando uma presença massiva de obras femininas.

Ela também chama a atenção para o papel da escola em manter a viva e pulsante a memória do cordel,  leitura de folhetos dos cordelistas em atividade e autores já falecidos.   

Política pública

“A maioria das pesquisas sobre o tema busca a representação feminina no cordel nos séculos XIX e XX. Depois desde período, no século XXI, o assunto é pouco abordado e por isso surgiu o estudo para compreender como as cordelistas estão representadas nas fases históricas mais recentes”, aponta a estudante que também afirma o valor geracional do projeto. 

A professora também destacou a importância do projeto para a discussão de desafios como a falta de políticas públicas que garantam a popularização de folhetos de cordel nas escolas, e lembrou que é necessário haver apoio e compromisso do poder público com projetos e pesquisas que contribuam para a valorização da cultura popular nordestina na escola pública, prevenindo a erradicação e discriminação da cultura popular.

Ela usou como exemplo o fato de que a maioria das escolas não tem folhetos de cordel para a biblioteca e nem professores conhecedores da cultura popular tendo em vista que este tema não é matéria obrigatória nas universidades.

“Temos uma lei que obriga que a escola trate da literatura do cordel, mas na prática não temos acesso ao material e os professores não teve esta formação e muitas vezes não conhece. Então a nossa cordelteca, além de trazer material para a escola, beneficia toda a rede escolar da região, disponibilizando e promovendo visitações e acesso a um rico acervo com 456 folhetos de autoras e atores de Sergipe e de outros estados,realizando oficinas abertas ao público, e seminários no Youtube sobre a literatura de cordel para os professores. Assim contribuímos para a efetivação da lei”, destaca.

Projeto Representação da Mulher no Cordel

 As conclusões, resultados e metodologias utilizadas no Projeto Representação da Mulher no Cordel foram apresentadas pelo orientador da pesquisa, Jorge Henrique.  

“O projeto foi apresentado e aprovado pela Fapitec pelo Edital Nº2/2022, sendo desenvolvido pela escola a partir do inicio do ano letivo com a participação de três alunas. A proposta foi investigar a representação da mulher em folhetos de cordel escritos por homens e por mulheres, partindo de duas razões específicas: a primeira considerando que a literatura de cordel se consolidou ao longo dos anos como um espaço eminentemente masculino, entretanto, na última década as mulheres vêm reivindicando o seu lugar de destaque neste tipo de literatura. Além disso, faltam pesquisas que investiguem esta temática da representação feminina no cordel nas últimas décadas”, ressalta.  

A também bolsista e aluna do 2º ano do ensino médio, Giulia Meneses Brito Dantas, analisou os estereótipos sobre a mulher nos folhetos de cordéis. “Analisamos a representação da mulher escritora e personagem deste tipo de literatura tanto pela perspectiva de autores femininos como masculinos. A pesquisa também contribuiu para saber mais sobre os folhetos de cordel, um tema que tenho interesse. Quando surgiu a oportunidade de participar da seletiva para a pesquisa não tive dúvida”, relata.

Para entender este processo, a pesquisa contou com a participação direta de três bolsistas de iniciação científica e estudantes do ensino médio que foram selecionadas para o projeto e compartilham a experiência de pesquisa sobre a popularização do folheto de cordel e a sua relação com o feminismo.

A adolescente Maria Luiza Silva Santos, de 16 anos, foi uma das bolsistas selecionadas. Ela estudou as narrativas e os espaços de fala feminina nos cordéis. “Foi uma experiência de muito aprendizado. Adquiri mais conhecimento sobre o tema e a respeito do feminismo, um processo muito gratificante e desafiador no qual pude aprender melhor a análise de artigo, participar de palestras, conversar com várias pessoa e fazer parte de encontros de leituras sobre o tema“, revela.

A estudante e bolsista Emilly Vitória Canuto Santos, de 17 anos analisa o estudo da historiografia do cordel, identificando que historicamente a relação da mulher com a literatura de cordel é tema pouco abordado e compreendido em alguns períodos.

Bolsistas

Ela conta que a pesquisa oportunizou um encontro com a obra e vida de Alda Cruz e disse que é importante para as novas gerações compreender o papel das mulheres para a literatura de cordel. “A partir desta experiência tive a oportunidade de adquirir um melhor conhecimento sobre a autora e através da sua obra e história saber mais sobre as mulheres cordelistas. Me apaixonei pela história dela e pelo legado da literatura de cordel no decorrer da trajetória da pesquisa”, comenta. 

Presenças

O evento foi prestigiado pela diretora técnica da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE), Carla Xavier, e pela coordenadora do Programa de Comunicação Científica e Tecnológica (PROCIT), Stefani Dias.

Carla Xavier destacou a alegria de presenciar um momento tão importante para a educação, ao mencionar que a literatura de cordel tem o papel de transformar as pessoas e potencializar o fortalecimento da cultura popular nordestina.

“Quando entrei na escola fiquei muito feliz ao ver este projeto. Nós da fundação que trabalhamos com os editais temos a felicidade de apoiar um projeto tão bonito em parceria com a SEDUC. Parabenizamos a toda equipe por esta iniciativa, que revela a riqueza do chão da escola ao promover uma ação que valoriza as nossas raízes culturais. Sergipe é um celeiro de muitas culturas e projetos como estes levam para a sociedade o  conhecimento da história e da cultura viva, fortalecendo a nossa identidade e pertencimento cultural”, parabenizou.

Além da comunidade escolar, o evento também foi prestigiado por cordelistas e membros da Associação Cordelista de Nossa Senhora da Glória.

 

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Última atualização: 29 de dezembro de 2023 11:30.

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